Em um mundo cada vez mais acelerado, em que o imediatismo domina as interações, buscar um engajamento mais profundo se torna essencial para a vivência humana. Ao questionarmos meios para alcançar esse envolvimento, a experiência artística aparece como uma resposta para esse incentivo. Acerca disso, a proposta de potencialização multissensorial, aparece como um convite à pausa, que proporciona a reflexão e a vivência plena dos sentidos e suas ativações simultâneas.

Assim, convidamos a explorar a relação dos sentidos e sensações, envolvendo processos sensoriais ou sua temática na construção conceitual, produção ou resultado das obras de arte. Partindo de um estudo de diferentes meios e materiais, surgem possibilidades de construir combinações entre dois ou mais sentidos, como visão, audição, tato, olfato, paladar etc,. Dessa forma, ao ativá-los, a obra transcende o status de objeto de mera apreciação passiva, transformando-se em um espaço de diálogo dinâmico entre espectador e obra. A multissensorialidade como parte integrante da construção poética da obra, em que diferentes sentidos são relacionados, potencializando a experiência. Com isso, o trabalho artístico pode comunicar uma intenção multissensorial em seu desenvolvimento e também pode envolver o espectador em uma percepção mais ampla e profunda, ampliando o alcance da sua expressão artística.

Dessa maneira, o artista pode optar por uma obra que mantenha uma natureza contemplativa, pensando também, que ela pode incorporar elementos que estimulam o polo háptico da visão, no qual o olhar do espectador experimenta sensações táteis ao explorar as texturas, profundidades e nuances visuais. Podendo também, envolver escutas corporais e outras possibilidades de relações, até mesmo inverter o incentivo e propor o toque como caminho para estimular a visão. Por meio da intencionalidade de tratar a ativação de diferentes sentidos, as propostas artísticas podem transportar as pessoas pelas sensações e proporcionar um momento de reflexão a respeito da percepção dos sentidos.

Cicatrização é um termo que encapsula a complexidade da condição humana, onde a dor e a cura coexistem em um delicado equilíbrio. Ao falarmos sobre cicatrização, não nos limitamos a abordar a transformação da dor em algo positivo; também sublinhamos a inevitabilidade do sofrimento e as contra partes negativas adjacentes dele. Nesta mostra, convidamos o público a embarcar em uma jornada através das expressões artísticas que emergem das sombras de tragédias, sejam elas coletivas ou pessoais. A cicatrização se transforma em um processo de afirmação, na qual o testemunho da dor é expressada em forma de arte, sem negligenciar o sofrimento, mas sim entende-lo como um possível resultado e processo do ser e estar vivo.

A arte, nesse contexto, emerge como um agente de diálogo e conexão. Ao compartilhar suas histórias, os artistas oferecem ao público a oportunidade de refletir sobre suas próprias experiências e cicatrizes. A exposição torna-se um campo comum onde as feridas pessoais se encontram com as coletivas, e a dor é reconhecida em sua plenitude.